Chi Kung - Uma antiga ciência para a respiração
(Chi Kung)
A respiração é a prova da existência da Roda da Vida . Vale a lógica simples
da observação: se respira, vive; se não respira, está morto. Com base neste
princípio, ao longo dos últimos 30 séculos monges, médicos e guerreiros chineses
desenvolveram uma verdadeira ciência da respiração , que, desde os anos 60,
vem tomando de assalto o Ocidente. Aliás, no próprio Ocidente a noção de
respiração como símbolo da vida não é desconhecida basta observar a
importância simbólica do sopro divino nas narinas , presente no Gênese, para
perceber a relação entre o inflar dos pulmões e a vida.
Na China, os exercícios respiratórios ganharam primitivamente o nome de
Daoyin (danças de fundo xamanístico que exercitavam o corpo e a mente) e,
depois, de Qigong (ou Chi Kung) expressão que pode ser definida como
treinamento de energia . A denominação energia (Qi ou Chi) relaciona
elementos caros à cosmogonia chinesa fogo, ar, movimento e transformação.
Treinamento de Energia - Os conceitos básicos do Qigong se confundem
com as idéias chinesas referentes à criação do universo e estão presentes na
medicina tradicional há pelo menos 5 mil anos, desde o surgimento do Cânone do
Imperador Amarelo , clássico escrito na época de reinado do semi-lendário
Imperador Amarelo (2690 2590 a.C.), e das primeiras idéias taoístas
Qi, termo cujas primeiras definições datam neste período, é uma palavra com
muitos significados, todos relacionados ao conceito de energia. É a matéria-base
de todo o universo, que forma, congrega e garante a vida. No caso do corpo
humano, garante sustentação à vida, estando sempre acompanhado de dois
outros elementos jing, a matéria-prima ou o combustível herdado no
momento da concepção e presente nos alimentos e no ar, e shen, elemento
espiritual que produz a consciência e que pode levar o indivíduo à transcendência.
Em termos simples, Qi deriva de Jing e é fundamental para a existência e para o
desenvolvimento de Shen.
Teorizando - Qigong, portanto, nada mais é do que a prática de exercícios
físicos e respiratórios voltados ao fortalecimento da energia interna para trazer
saúde, aumentar a longevidade e, assim, permitir que o indivíduo alcance níveis
mais altos de compreensão sobre a vida e o universo. Aliás, é significativo
observar que uma das primeiras definições a respeito foi dada pelo filósofo Lao
Tzu, autor do clássico Tao Te Ching e pai, junto com Chuang Tzu, do Taoísmo. No
século VI a.C., em um capítulo de seu livro, ele escreveu: O Qi primordial
existente ao redor do Dantien (ponto de acupuntura situado alguns centímetros
abaixo do umbigo) pode durar para sempre se for devidamente preservado. Para
isso, é necessário absorver a energia do céu através das narinas e a energia da
terra através da boca. Cada absorção deve ser lenta, profunda e ritmada.
Outro exercício de Qigong primitivo foi descrito em uma placa de jade
datada do período dos Reinos Combatentes (475 221 a.C.), uma das fases
mais importantes da história chinesa. Nela, em ideogramas arcaicos, um autor
desconhecido descreve a seguinte técnica: Respire profundamente e leve o ar até
o Dantien; - é a chamada respiração baixa, também conhecida na ioga, que
consiste em inspirar empurrando o diafragma para frente, como se inflando a
barriga mantenha a respiração por um momento e então exale mentalizando
uma onda de energia chegando ao topo da cabeça. Desta forma, a energia yang
(de polaridade masculina) vai subir e a energia yin (feminina), descer. Quando as
energias ocupam seus próprios lugares, sobrevivem; caso contrário, morrem.
Durante as dinastias Qin e Han de 221 a.C. a 220 d.C a prática de
exercícios respiratórios foi popularizada por figuras como o médico Hua To,
criador da série de exercícios chamada jogos dos 5 animais , praticada até hoje.
Nos séculos seguintes, os praticantes se dividiram em 3 grandes grupos que
viriam a definir os tipos de Qigong hoje existentes. O primeiro e mais antigo é o
chamado Qigong religioso, praticado por monges budistas e taoístas para
melhorar a performance durante as sessões de meditação e busca pela
iluminação; o segundo é o Qigong medicinal, decorrente do primeiro e praticado
para curar ou prevenir doenças; o terceiro, de longe o mais hardcore dos três, é o
chamado Qigong marcial, praticado por lutadores de Kung-Fu para fortalecer o
corpo contra golpes e, principalmente, aumentar o poder dos próprios golpes
(apenas para se ter uma idéia, um dos principais mestres de Qigong marcial deste
século, o patriarca do estilo de Kung-fu Shaolin do Norte, Ku Nei Chang, ficou
conhecido em toda a China em 1931 quando, durante uma briga, teria
exterminado um cavalo com uma palmada).
A partir dos anos 50, com a incorporação do paradigma científico ocidental à
medicina tradicional chinesa, foi possível observar que vários dos efeitos
atribuídos à prática regular do Qigong não eram, como mesmo muitos chineses
pensavam, frutos de crendice ou engodos. Pesquisas realizadas pela Physical
Culture and Sports Comission of the People´s Republic of China (Comissão para
Cultura Física e Esportes da República Popular da China) mostraram, por
exemplo, que os exercícios têm efeitos extremamente positivos sobre os sistemas
nervoso, respiratório, circulatório, endócrino e imunológico. A simples inibição do
córtex cerebral, um dos efeitos básicos da prática, tem um impacto fundamental
sobre todo o organismo, auxiliando na sua regulação. A respiração diafragmática
massageia os intestinos e o estômago, ajudando a equilibrar as secreções
glandulares e os movimentos peristálticos. A prática também atua sobre o
metabolismo de vários hormônios, aumentando também o poder fagocítico dos
leucócitos, reforçando a produção de células-T e, em alguns casos, freando o
crescimento de tecidos cancerosos.
Para saber mais - O tema Qigong é muito rico e tem merecido a atenção de
vários autores em todo o mundo. Se você quer saber mais a respeito, seguem
algumas sugestões de leitura:
Chinese Qigong Essentials , Yuefang, Cen, New World Press, Beijing,
1996;
Sun Zi´s Art of War and Health Care Military Science and Medical
Science , Rusong, Wu, Hontu, Wang, e Ying, Huan; New World Press, Beijing,
1997.
Fonte: Thiago Trainer